TERRE  INDIGÈNE agradece a parceria com CERÂMICANORIO para a construção desta página - Fonte : ARTE  POPULAR
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A CERÂMICA DOS ÍNDIOS WAURÁS - AMAZONAS-AM

      Os Índios Waurás pertencem ao tronco linguístico Aruak e habitam o Alto Xingu na amazônia. Vivem em aldeias próximas ao Rio Batovi no Estado do Mato Grosso-MT.
      Há gerações confeccionam com muita habilidade peças cerâmicas (utilitárias e decorativas). São exímios também na confecção de cestaria, arte plumária e máscaras usadas em rituais.
      Algumas peças apresentam formas zoomorfas representando os mais diversos animais encontrados em seu habitat (peixes, tartarugas, tatu, sapo, jacaré etc).
      Deve ser observado a existência de animais considerados “não bonitos” que nunca são representados: beija-flor, cobra, porco do mato e outros. Tal procedimento certamente tem ligação com seus mitos.
      As cerâmicas dos Waurás são decoradas com grafismos simples mas com forte impacto visual. A coloração é obtida usando minerais e vegetais: barro vermelho e de outras cores, urucu, piquí além de outros pigmentos encontrados na natureza.
      Os Waurás confeccionam grandes potes havendo um exposto no MNBA-Museu Nacional de Belas Artes no Rio de Janeiro-RJ, medindo cerca de 1 metro e meio de altura, e panelas menores  com formas de animais, utilizadas para cozimento ou guarda de alimentos e sementes.

Pesquisa,Texto e Fotos: Renato Wandeck

                                       

 

                                        

 

 


 Cerâmica Terena - MATO GROSSO DO SUL-MS -

   Os índios Terena são conhecidos pela habilidade na agricultura e no artesanato.
     Sua etnia constitui a maior nação indígena de Mato Grosso do Sul-MS, cerca de 18 mil indivíduos, com uma ocupação fragmentada em diversas regiões. De índole pacífica pertencem ao tronco lingüístico Aruak.
     
Cultivam em suas terras arroz, feijão, feijão de corda, maxixe, mandioca e milho, alimentos que formam a base de sua alimentação.
     Os
Terena lutaram na Guerra do Paraguai e colaboraram com o Marechal Rondon na construção de linhas telegráficas e também trabalharam na construção da estrada de Ferro Noroeste do Brasil.
     Alguns habitam aldeias ou reservas criadas pelo Governo e muitos vivem nas periferias das cidades. Campo Grande, capital do estado, acolhe um número significativo deles.
A alternativa atual do artesanato Terena, como meio de subsistência, se dá, principalmente, através do barro, da palha, da tecelagem, atividades que representam um nítido resgate de sua arte ancestral indígena.

Pesquisa, texto e fotos: Renato Wandeck

Bibliografia:
Cerâmica Terena
Pesquisa e texto de Wallace de Deus Barbosa
Sala do Artista Popular
Museu de Folclore Edison Carneiro
Rua do Catete 179/Rio de Janeiro-RJ
Catálogo da exposição realizada de 8 de janeiro a 20 de fevereiro de 2004.
Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular
Funarte/IPHAN/Ministério da Cultura.




 CERÂMICA  CADIUÉU  - MATO GROSSO DO SUL-MS

    Os índios Cadiuéu ou Kadiuéu são descendentes dos famosos Mbaya-Guaicurus,  "Índios Cavalheiros do Pantanal",  famosos no passado por terem sido excelentes guerreiros. Nos conflitos escondiam-se no dorso dos cavalos para iludir os inimigos, fazendo-os crer que os animais estavam sem montaria. Destacaram-se pela tenaz resistência, imposta aos espanhóis e portugueses, em conflitos na bacia do rio Paraguai quando da colonização do Brasil.

A região em que vivem situa-se na serra da Bodoqueira, entre Bonito e Jardim, no Mato Grosso do Sul, num território de 100 mil hectares. Suas principais atividades são a criação de gado, a agricultura de subsistência, a caça, a pesca e o artesanato.

Os Cadiuéu são muito admirados pelo excelente trabalho que realizam com o barro, principalmente no que se refere à decoração das peças. Aplicam desenhos geométricos com  cores fortes - preto, vermelho, ocre, amarelo, branco, verde etc. Os corantes utilizados são naturais: minerais e vegetais da região.

A tarefa de modelar o barro é predominantemente feminina, como sempre acontece nas tribos indígenas. 

Produzem objetos utilitários e decorativos: potes, panelas, jarros, moringas, placas  e animais. Nos utensílios usados para cozer alimentos não é prática aplicar decoração.

     As argilas são obtidas em diferentes jazidas da região. De algumas só se usa o barro, na forma de "engobe", para decorar as peças com cores vivas e vibrantes.

     No preparo da massa misturam à argila cacos de cerâmica
  já queimada, bem peneirados  e moídos- "chamote"- com a finalidade de diminuir a plasticidade e  melhorar a liga. Essa prática facilita o levantamento da parede da peça, sem o risco de haver desmoronamento e rachaduras e diminui  o encolhimento durante a  secagem e na queima.

     As peças, depois de prontas, são deixadas secar ao ar livre, por muitos dias,   antes de serem  cozidas. As queimas não são feitas em fornos e sim  em fogueiras a céu aberto.

     A lenha preferida é de angico, bem seco, que dá fogo vivo e forte. A modelagem das peças é realizada sem o uso do torno. O processo utilizado é o de cordões de barro, também conhecido como cobrinhas ou roletes. As paredes são levantadas, cordão por cordão, alisadas, interna e externamente, com o auxílio de uma ferramenta improvisada que pode ser um osso, uma pedra ou outro objeto. Os Cadiuéu são exímios nesta técnica, chegando a confeccionar jarras de um metro de altura, com excelente perfeição de forma. 

São muitas as variedades dos desenhos ornamentais aplicados nas peças. Os modelos são guardados como tradição familiar vinda da mãe, das avós, das tias etc. São riscos à mão livre, traçados com o auxílio de um cordão feito de gravatá, formando  sulcos na superfície da peça. São linhas retas, curvas, paralelas, degraus de escadas, espirais, ornatos em ziguezague e outras variantes.  

     A decoração é feita com pigmentos naturais de cores fortes.
O
  verde é obtido de uma argila, com  esta coloração, cuja jazida situa-se no meio de uma mata fechada. A tonalidade esverdeada certamente origina-se da decomposição, através dos tempos, de vegetais do local.
     Os tons
amarelos e os brancos  são obtidos de argilas encontradas na beira de córregos.
     O tom
vermelho e o ocre obtêm-se de barro rico  em óxido de ferro.
    
O preto é obtido da  resina da árvore, Pau Santo. O processo consiste em ferver, num recipiente, lascas, já secas, do tronco  do vegetal. Com a ebulição da água, sobe uma resina para a superfície na forma de bolinhas, parecendo graxa. O material é então retirado, aos poucos,  com um bastãozinho de madeira e introduzido num recipiente, com água fria, para endurecer. O processo vai se repetindo até que se seja formado  um bastão de bom tamanho.

     As argilas usadas como pigmentos na decoração- "engobes"- são primeiramente limpas, retirando-se todas as impurezas. Depois são postas a secar para, em seguida, serem amassadas, moídas e peneiradas. No momento de aplicá-las na peça, elas devem  ser diluídas em água, para adquirirem uma consistência pastosa.
Não são usados pincéis. Os corantes são passados com os dedos. Para que a impregnação das cores ocorra eficientemente, deve ser realizada após o término da queima, com a peça
  ainda bem quente.

     A primeira cor a ser aplicada é a preta, que exige uma maior quantidade de calor na peça. Faz-se passando o bastão, obtido do Pau Santo, nas áreas escolhidas. Como resultado, tem-se   impressão semelhante à do verniz industrial, pois surge um tom forte e  brilhante. 

Os sulcos são sempre pintados de  branco, tonalidade que, visualmente, melhor delimita o contraste das áreas  decoradas. Exemplo: uma superfície preta é separada de uma ocre por um sulco de cor branca.  

     Os desenhos gráficos dos Cadiuéu influenciam bastante os trabalhos de estilistas, pintores e outros artistas de Mato Grosso do Sul. Nas lojas de Campo Grande, capital do estado, é comum encontrar os mais variados objetos ostentando símbolos artísticos dos indígenas.

     A fama dos grafismos dos índios Cadiuéu  já chegou à Europa. Em 2000 o escritório "Brasil Arquitetura" de São Paulo, dirigido pelos arquitetos Marcelo Carvalho Ferraz e Francisco de Paiva Fanucci , venceu uma  concorrência internacional para a recaracterização do bairro "Gelbes Viertel" em Hellesdorf, Berlim. Dentre as intervenções adotadas uma  foi usar, desenhos da índias, em azulejos para serem aplicados nas  fachadas e saguões dos edifícios.
     Com o apoio da FUNAI realizaram um concurso tendo sido selecionado
s seis trabalhos. Como remuneração a tribo recebeu direito autoral coletivo e as artistas premiadas, acompanhadas de um guia, visitaram a cidade e verificaram,  “in loco”  , a aplicação de sua arte em terras tão distantes.

     Azulejos que foram industrializados e aplicados no projeto em Hellesdorf.

Imprescindível para o conhecimento da cultura dos índios Cadiuéu é a leitura do livroARTE DOS ÍNDIOS KADIUÉU, de Darcy Ribeiro.

Pesquisa,Texto e Fotos: Renato Wandeck


CERÂMICA MARAJOARA - Ilha de Marajó- PARÁ-PA

A  Cerâmica Marajoara  é fruto do trabalho dos índios da Ilha de Marajó. A fase mais estudada e conhecida se refere ao período de 400/1400 dC. 
     Marajó é
a maior ilha fluvial do mundo, cercada pelos rios Amazonas e Tocantins, e pelo Oceano Atlântico. Localiza-se no estado do Pará-PA, região norte do Brasil.


A  Cerâmica Marajoara  é fruto do trabalho dos índios da Ilha de Marajó. A fase mais estudada e conhecida se refere ao período de 400/1400 dC. 
     Marajó é
a maior ilha fluvial do mundo, cercada pelos rios Amazonas e Tocantins, e pelo Oceano Atlântico. Localiza-se no estado do Pará-PA, região norte do Brasil.

      O maior acervo de peças de Cerâmica Marajoara encontra-se no Museu Emilio Goeldi em Belém-PA. Há também peças no Museu Nacional no Rio de Janeiro, (Quinta da Boa Vista), no Museu Arqueológico da USP em São Paulo-SP, e no Museu Universitário Prof Oswaldo Rodrigues Cabral ,na cidade de Florianópolis-SC e em museus do exterior - American Museum of  Natural History-New York e  Museu Barbier-Mueller  em Genebra. 

     
Um dos maiores responsáveis, atualmente, pela memória e resgate da civilização indígena da ilha de  Marajó é Giovanni Gallo, que criou  em 1972 e administra o Museu do Marajó , localizado em Cachoeira do Arari.  O museu  reúne  objetos representativos da cultura da região - usos e costumes.
 
     
Para se chegar à ilha leva-se 3 horas de barco, ou 30 minutos, de avião, partindo-se de Belém, capital paraense. Visando manter a tradição regional, o museólogo criou  um ateliê de cerâmica onde são reproduzidas e comercializadas peças copiadas do acervo.  O barro é modelado manualmente com a  técnica das cobrinhas (roletes), sem o uso do torno de oleiro.

      Os índios de Marajó faziam peças utilitárias e decorativas. Confeccionavam vasilhas, potes, urnas funerárias, apitos, chocalhos machados, bonecas de criança, cachimbos, estatuetas, porta-veneno para as flechas,  tangas (tapa-sexo usado para cobrir as genitália das moças) – talvez as únicas, não só na América mas em todo o mundo, feitas de cerâmica.
     Os objetos eram zoomorfizados (representação de animais) ou antropomorfizados (forma semelhante ao homem ou parte dele), mas também  poderiam misturar as duas formas-zooantropomorfos.

     Visando aumentar a resistência do barro eram agregadas outras substâncias-minerais ou vegetais: cinzas de cascas de árvores e de ossos, pó de pedra e concha e o cauixi-uma esponja silicosa que recobre a raiz de árvores, permanentemente submersas.

      As peças eram  acromáticas (sem uso de cor na decoração, só a tonalidade do barro queimado) e cromáticas. A coloração era obtida com o uso de engobes (barro em estado líquido) e com pigmentos de origem vegetal. Para o tom vermelho usavam o urucum, para o branco o caulim, para o preto o jenipapo, além do carvão e da fuligem.
      Depois de queimada, em forno de  buraco ou em fogueira a céu aberto, a peça recebia uma espécie de verniz obtido do breu do jutaí, material que  propiciava um acabamento lustroso.


Urna Funerária

     Nas urnas funerárias, os índios colocavam os restos de seus mortos-ossos acompanhados de objetos.  Externamente, tais urnas eram decoradas com desenhos gráficos relativos às crenças e aos deuses adorados.    
      A decoração da Cerâmica Marajoara era feita com traços gráficos simétricos e harmoniosos, em baixo e alto relevo, entalhes, aplicações e outras técnicas.  

     A descoberta de artefatos marajoaras é dificultada  por ser o solo da ilha extremamente úmido e sujeito a  inundações periódicas. Infelizmente, no correr dos anos, muitos objetos encontrados em escavações arqueológicas  foram saqueados e até contrabandeados para o exterior - um grave desrespeito ao patrimônio cultural brasileiro.

     Hoje em dia o mais importante pólo de resgate da cerâmica marajoara no estado do Pará encontra-se  em Icoaraci, localidade próxima à cidade de Belém. 
     Os artesãos usam o barro colhido nas margens dos igarapés da região, modelam, à mão ou em tornos-de-pé, réplicas, peças utilitárias e decorativas, queimam em rústicos fornos a lenha, decoram com engobes, e usam a técnica de brunir.

     Através do Liceu de Artes e Ofícios do local, fundado em 1996, são formados novos artistas do barro voltados para a preservação e a renovação desta cultura. Estes artesãos redesenham a cerâmica marajoara com novas formas, não deixando, entretanto, de fazer réplicas.
    
O Liceu  leva o nome do Mestre Cardoso-Raimundo  Saraiva Cardoso figura de destaque nos trabalhos de  resgate da cerâmica marajoara.  O Mestre e sua mulher Inês Cardoso trabalham para o Museu Emílio Goeldi fazendo réplicas de peças Marajoaras.  
     
Outros nomes importantes, do passado e do presente, no que se refere à cerâmica em Icoaraci são: Seu Cabeludo (Antonio Farias de Vieira), Seu Anísio , Amiraldo, Mestre Rosemiro, Dona Ana, Dona Zuíla, Elias, Cauby, Antonio, Levi, Ademar, Wilson, Júlio, Manuel, Guilherme Santana e Hildelmar.

      Em Icoaraci existem dezenas de ateliês  confeccionando peças que são vendidas para o mercado interno e externo. Um dos principais locais de comercialização é a COARTI- Cooperativa dos Artesãos de Icoaraci, localizada na rua Padre Júlio Maria, próximo à Praça da Matriz; na SOAMI-Sociedade dos Amigos de Icoaraci, Passagem Espírito Santo 20 A, tel 0xx91 2476599 e na COSAPA-Conselho Superior do Artesão do Pará, Travessa Soledade 700 tel 0xx91 2272905/2270127.
      Em Belém podem ser encontradas em diversas lojas da Av Pres Vargas.
     Pela internet podem ser adquiridas peças através do site: http://www.icoaraci.com.br

 

 

 

      Não deve deixar de ser visitado o site  www.marajoara.com  que apresenta pesquisas de campo em diversos projetos arqueológicos na Ilha de Marajó dirigidos por Denise Schaan. Estudo da Cerâmica Marajoara e outras abordagens.
Através do site pode-se adquirir um CD sobre a Cultura Marajoara e em breve os interessados poderão solicitar réplicas de peças cerâmicas arqueológicas online.

      Através do site  www.ArteAmazonia.com  podem ser adquiridas cerâmicas e muitos outros produtos da região amazônica.


CERÂMICA TAPAJÔNICA
Outro tipo de cerâmica amazônica, a Tapajônica,  foi muito bem estudada  e analisada.  O  referencial é o livro abaixo com 360 páginas e 163 fotos de peças e fragmentos, da coleção do MAE-USP.
http://www.ceramicanorio.com/artepopular/ceramicatapajonica/ceramicatapajonica.htm

Cerâmica Arqueológica da Amazônia
Vasilhas da coleção Tapajônica do MAE-USP
Autoria de Denise Maria Cavalcante Gomes
Edusp-Editora da Universidade de São Paulo

http://www.usp.br/edusp
edusp@edu.usp.br

 

Pesquisa,Texto e Fotos: Renato Wandeck


Cerâmica dos Índios Karajás